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quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Banda Judas lança Enfermaria Nº 6

Banda Judas - Foto: Nathalia Mendes

A banda Judas está de volta, lançando Enfermaria nº6, segundo EP da trilogia que se iniciou em 2016 com Casa de Tolerância nº1 e se encerra em 2019 com Matadouro nº5. Os três EPs, mais a canção Cisne Negro antecipam e fazem parte de seu próximo disco físico, que está em fase final de mixagem e masterização e será lançado no início de 2019.

O disco que está saindo do forno atende pela alcunha de Os Desencantos, cuja motivação poética do nome de batismo é inferir que se tratam de cantos desencantados com o mundo e o atual estado das coisas.

As três faixas escolhidas para o EP dão o tom amargo e melancólico do disco e são a cara dos novos e loucos tempos que se aproximam, cada uma a seu modo.

Adalberto Rabelo Filho (voz), Pedro Vaz (viola caipira), Hélio Miranda (bateria), Carlos Beleza (guitarra) e Bruno Prieto (baixo), que substitui o falecido integrante Pedro Souto - para quem a banda dedica esse lançamento - avançam e se aprofundam na experiência da viola caipira, cada vez mais confortável em estar imersa na linguagem pop e radiofônica que permeia o disco.

Enfermaria nº6, faixa que dá nome ao EP, tem seu título extraído de um conto de Tchekhov, em que o médico de um hospício acaba sendo internado também. A denúncia da loucura do mundo vem embalada por um contagiante groove dançante, misturando o rock e rhythm and blues dos Rolling Stones ao ritmo e pegada do funk carioca, ainda contando com um intermezzo com cara de A Cor do Som. Na participação especial, a guitarra incendiária de Vitor Fernandes, reconhecido guitarrista de Brasília, integrante da banda Galopardo, dialoga virtuosamente com a guitarra extraterrena de Carlos Beleza, integrante da banda, adicionando uma dose a mais de veneno à música já cheia de maldade.

E, por falar em maldade, é Os Novos Malditos o título da segunda faixa do disco. O nome é uma brincadeira que alude aos Novos Baianos e dos Doces Bárbaros e insinua, valendo-se sutilmente da linguagem da fresta (descrita por Gilberto Vasconcellos em seu livro De Olho na Fresta, lançado nos anos 70), que houve aí uma queda em desgraça de um determinado grupo de pessoas, que está em trânsito uma troca de valores e o que ontem era bom, hoje é considerado ruim.

A linda e desesperançada letra da canção trata dessa decadência de forma poética, embalada por um som que lembra The Band, banda mais famosa a tocar com Bob Dylan, ao mesmo tempo em que remete à música caipira brasileira, e conta com um coral cujos convidados são importantes integrantes da nova cena brasilense, de diversos estilos que vão da música paraense ao stoner rock: Emília Monteiro, Maria Sabina, Gaivota Naves (Joe Silhueta), Litieh, Julia Carvalho (Talo de Mamona), Estephanie Cavalcante, Stivenson Canavarro, Thuyan Santiago, Tarso Jones e Pedro Lacerda.

A terceira e última canção do EP é Um Moi de Vento, uma tristíssima balada épica candanga de sete minutos de duração, que mistura o som do sertão ao som do Velvet Underground, ainda arranjando fôlego para citar Manuel Bandeira em sua letra cheia de imagens e transbordando de sentimento. O nome da canção é um trocadilho com a expressão pernambucana virado no moi de coentro, que quer dizer, a grosso modo, que a pessoa é incansável ou que é impossível de se parar, e, ao mesmo tempo, faz alusão aos moinhos de vento com os quais guerreia Dom Quixote no famoso clássico de Cervantes.

“A ideia era mesmo ir contra a corrente atual de nichos e apostar em misturar tudo. Afinal, é assim que a gente ouve música em casa, e não de forma segmentada. Não é porque a gente usa a viola caipira no Judas, pretensamente algo tradicional, que a gente não pode junta-la ao funk ou ao pop de 2018”, reflete Adalberto sobre a variedade musical presente no disco. “Ninguém cabe dentro de um só estilo ou rótulo e, além de tudo, é normal que as pessoas gostem de coisas incongruentes entre si, uma vez que a contradição é uma coisa intrínseca do ser humano. Já saturou essa onda da gentrificação, né?”. E exemplifica “O Bob Dylan mesmo, em seu livro Crônicas, disse que sempre quis ser o Elvis, que mesmo representando uma revolução nos costumes, pode ser considerado um entertainer, e acabou sendo considerado, meio que a contragosto, o porta voz da sua geração, por conta da qualidade intelectual de suas letras, influenciadas não pela simplicidade do rock, mas por poetas de vanguarda como o beatnik Allen Ginsberg. É essa mistura peculiar que cada um de nós faz das coisas que torna a gente singular. As pessoas são várias numa só, ninguém é a mesma coisa o tempo inteiro, todo mundo é meio metamorfose ambulante. Por exemplo, todo mundo sempre responde, quando arguido sobre seu gosto musical, que é eclético, não é verdade?”, filosofa.

As três canções foram compostas por Adalberto, vocalista e principal compositor da banda, conhecido e elogiado também por seu trabalho como compositor e letrista da inventiva banda Numismata e também como letrista da maior parte das músicas da banda Vespas Mandarinas, importante banda do rock nacional, indicada ao Grammy Latino de 2013. Em sua carreira musical, Adalberto já foi gravado ou teve a oportunidade de tocar com grandes nomes como Luiz Melodia, Maria Alcina, Jards Macalé, Samuel Rosa, Pitty, Skowa, Wado, Ronei Jorge, Zé Mulato e Cassiano, Siba, Pio Lobato, Vivendo do Ócio, entre outros, até nomes internacionais como o lendário Wayne Kramer (MC5) e Mark Arm (Mudhoney). Recentemente suas canções também foram a base de inspiração para a peça “O Tocador da Viola Envenedada”, do dramaturgo Sérgio Maggio, contemplada pelo FAC (Fundo de Apoio à Cultura do DF) encenada no Sesc e no Sesi, em Brasília.

Gravado na Sala Fumarte no primeiro semestre de 2018, tanto o álbum quanto o EP serão lançados pelo selo Discobertas, do renomado produtor e pesquisador Marcelo Fróes e tem a produção de Bilis Negra (Bruno Prieto e Breno Brites) e da própria banda.


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